quinta-feira, 21 de abril de 2022

90 km

 

Tive o prazer de ler durante as últimas férias este livro inspirador, de Nato Amaral.

Atleta brasileiro, Nato se aventurou na corrida e se especializou na Comrades Marathon, talvez a ultramaratona mais emblemática de todas.

 Realizada na África do Sul, esta é uma prova única, por seu grau de exigência, por sua altimetria, por sua história, pelo desafio que ela representa para qualquer corredor.

Em seu livro, Nato recupera cada um dos elementos que explicam por que ser comradeiro é fazer parte de um seleto grupo, e porque a conclusão da prova traz uma sensação irrepetível para o corredor.

 

Aspectos gerais do livro

A apresentação dos aspectos históricos da Comrades, as características da prova, a experiência desafiadora de enfrentar aquelas subidas todas e as emoções reservadas aos concluintes... tudo isso coroa uma narrativa contagiante, rica em detalhes, inspiradora.

Gostei da pegada confidencial, que confere um caráter realístico e divide com o leitor as dúvidas, as dores, a sensação das batalhas e as glórias de correr a Comrades. É algo realmente sensacional.

 O livro imprescindível pra quem gosta de corrida e entende que a grande sacada do nosso esporte é a competição consigo mesmo, numa atitude de paciência e persistência, rumo à superação.

Me surpreendeu quando Nato diz que a Comrades não é pra todo mundo, que mesmo maratonistas tarimbados devem ter cautela...

Ou seja: é uma ultramaratona para os fortes, física e mentalmente falando.

De fato, passagens como a participação dele no Unogwaja Challenge, em 2014, exclamam. Ficamos impressionados, imaginando o limite daquilo que é possível extrair de um atleta.

Ali a gente fica pensando: até onde eu conseguiria chegar em termos de preparação e de entrega? Quanto de resiliência eu teria?
A corrida, assim como o xadrez, são esportes que expõem o limite da pessoa.

Após concluir o desafio e ainda correr a Comrades (dois desafios brutais, um seguido do outro!), Nato diz: “Foi a maior realização esportiva da minha vida”.

Explicando: a maior realização foi proveniente do maior sofrimento! Uau!

 A partir do trecho “A estrada do sucesso” (p. 215), talvez a narrativa perca um pouco o foco. A Comrades deixa de ser o tema central, aparecem reflexões transversais, exemplos fora da corrida, aconselhamentos diversos... o que torna a leitura menos prazerosa.

Mas no geral o livro é muito bom!

 

Inspirações

Olha, lendo o livro, inúmeras passagens parecia o meu treinador Leandro conduzindo o treino. O jeito de conversar com as pessoas, de analisar a corrida, de apoiar e levantar o moral do grupo, sempre olhando pra frente, com otimismo e uma pitada de orgulho, cobrando das pessoas coisas elementares como empenho e disciplina.

Além da amizade e do amor pela Comrades tatuado na panturrilha, Leandro e Nato têm muitas coisas em comum.

Não se trata apenas... de correr. Trata-se de um modo de sentir a vida e conduzi-la.

É uma ética, mas é também uma estética, pois combina determinação com paixão, força com elegância, em alguns momentos prescindindo mesmo da razão e fincando uma experiência assaz corpórea, humana, imanente. Ou seja, chega um momento em que você não pensa mais, apenas olha adiante e corre. Só corre!

Os antigos gregos chamavam parte disso que estou falando de virtude guerreira: um conjunto de credenciais que identificavam o homem completo, aquele cujas características o distinguiam dos homens comuns.

A força e a coragem para enfrentar grandes desafios obviamente está no centro dessas credenciais.

Embora Hermes seja o deus do atletismo, é possível ver isso em Aquiles e, claro, na figura de Hércules, a representação mais emblemática de tudo isso.

 

Dor, aprendizagem e busca da excelência

“O mundo real é bem diferente daquela imagem do atleta realizado, com a medalha no peito”

Que passagem forte é essa!

Um dos pontos fortes do livro está na questão de explorar de forma contundente a relação entre o esporte e o convívio com a dor, a fadiga, o cansaço, o desejo de muitas vezes desistir.

Nato relembra que não há vitória de verdade, não há grandeza nem existe superação sem passarmos pela dor.

Isso lembra o trechinho do Murakami: “Na maioria dos casos, aprender uma coisa essencial na vida envolve dor física” (Do que eu falo quando eu falo de corrida, p. 120)

Eu fiquei pensando uma coisa.

Tenho a sensação de que hoje a questão da dor e do desconforto está sendo repudiada pelas novas gerações. Criados num conforto relativamente maior em relação aos pais e avós, rodeadas de telas e mundo virtual, adolescentes e jovens, na escola e na vida cotidiana até aprendem que é preciso empenho e estudo, mas... desconforto? Bem, isso não!

Dor, então, nem pensar.

Não sei como interpretar isso, mas para as novas gerações, a dor está se tornando uma espécie de humilhação desnecessária.

Quem tem filho pré-adolescente em casa, sabe que não é fácil convencê-lo.

Como lhe mostrar que o melhor do ser humano não vem senão à custa de um grande e doloroso esforço, e que possivelmente isso é o que confere a sensação de grandeza e gratificação consigo mesmo, ao final da tarefa realizada?

Certamente, o mais difícil é mostrar isso em atos.

Oxalá meus treinos na corrida e minhas provas sirvam como o compromisso de conciliar o discurso com a prática.

 

A conquista do green number

 “Foi algo mágico, a realização de um sonho... Todos os quilômetros foram desfrutados como se fossem os mais importantes da minha vida”

Sinótico, esse é um dos trechos mais marcantes do livro.

Eu gostei muito porque aqui a gente sente claramente aquela dimensão da gratificação que o atleta tem quando, depois de um longo trabalho, recebe sua recompensa.

A medalha ou o troféu, não paga, no sentido forte, todo o esforço dispendido.
A questão aqui se projeta para algo simbólico, muito maior, que remete aos valores do esporte, ao sentido de lutar e vencer, ao crescimento e à superação, física e mental.

Justamente por ser uma tarefa árdua e que demanda tempo, a glória está reservada apenas aos pacientes e determinados, que passaram pelo crivo e se tornaram merecedores.

Simples mortais como eu (imagina correr 90km!), mesmo não tendo toda essa garra e essa força, se sentem impelidos a colocar mais dedicação nos treinos, a fim de estender o seu horizonte e as suas conquistas.

 

Memórias do octeto

Vários trechos do livro me trouxeram memórias de fatos que aconteceram nesses poucos anos que estou correndo. Coisas sobre preparação, partilha de metas etc.

Uma coisa muito importante que eu não tinha percebido é a dimensão de envolver a minha família na minha prática esportiva. Seja acompanhando, seja participando.

Ao mencionar a sintonia do octeto, Nato explicita de forma muito feliz a realização que existe quando a gente pratica o esporte acompanhado de pessoas que amamos, pessoas que gostam do que a gente gosta, que encaram o mesmo desafio que nós, sofrendo e gozando das mesmas experiências.

Encontrar pessoas assim compatíveis é uma felicidade à parte.

Desfrutar da companhia delas numa jornada como a preparação para a Comrades então,  sem dúvida, é um presente indescritível.

 

Para quem ainda não começou

Se você não corre ou não pratica esporte, pode não compreender a grandeza das mensagens de um livro como o de Nato Amaral.

Não tem problema. Isso não significa que você não possa usufruir delas.

Cada um de nós tem potencialidades a serem desenvolvidas.

E acredite: são muitas! Pode ser na corrida, pode ser em outro esporte.

À medida que você se permite e se entrega, vai descobrindo como o corpo é forte, como você pode ir bem mais longe e o que até então parecia impossível se torna mais real e alcançável. Essa descoberta é pessoal e não tem como ser traduzida em palavras.

Esse itinerário te leva a ter um corpo mais forte, a ser mais confiante e autônomo.

Não é preciso que a doença te visite!

Não espere 40 anos para descobrir algo tão importante.

Comece o quanto antes!

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Ensaios de Amor


 

A propósito do tema da modernidade líquida, eu gostaria de comentar um livro que li recentemente.

Fala-se muito da questão da velocidade da comunicação, porém o conceito de modernidade líquida que a gente comumente lembra tem a ver com valores, não é?

Crenças sólidas sobre ética e religião, certezas sobre amizades e investimentos, segurança em relação a relacionamentos e ao futuro... são questões que têm passado por transformações profundas recentemente. Os episódios do programa Invenção do Contemporâneo, da Tv Cultura são, por exemplo, excelentes para quem quer uma boa introdução em relação às indagações que o séc. 21 nos traz.

O livro que apresento é de Allan de Botton e se chama: Ensaios de amor.

Suíço com formação anglo-saxã, de Botton tem um estilo contagiante que combina duas coisas: uma linguagem fluida e inteligente, que captura de forma precisa o sentimento, descrevendo-o à exaustão, algo bem comum em autores francófonos. Por outro lado, um bom-humor, um despojamento e um senso de empirismo claramente britânico. Com esse estilo, e uma bagagem incomum de literatura e filosofia, seus livros são sucesso de vendas.

Em Ensaios de amor, o que a gente tem é o surgimento, o desenvolvimento e o término de um relacionamento. Meio crônica, meio ensaio, o texto faz uso de vários recursos e tem insights primorosos. Ele excede realmente no detalhe, ao resgatar e problematizar a miríade de coisas que a gente, no corre-corre da vida, vê mas deixa passar despercebido. São impressões aqui, coisinhas ali que na verdade vão se somando e dando consistência à relação, seja no sentido de enriquecê-la, seja no de arruiná-la.

As reflexões são um bálsamo. A gente se identifica, ri, se emociona e – por que não? – sente as pulsões do amor em todo o seu aspecto febril e atordoante. Quando o assunto é paixão, quem viveu isso sabe o quanto a coisa é devastadora. A imaginação que alimentamos, os papeis que desempenhamos, as bobagens que fazemos... é tanta coisa!

Ao final, o livro me deixou com uma sensação dúbia.

Claro: em geral, quando algumas evidências colocam à prova nossa teimosa imaginação, tendemos a lançar mão de diversionismos. Recorremos a truques para amenizar ou disfarçar os estragos.

Mas o amor-fusão é daquelas coisas que não admite um equilíbrio. Nessa aventura, quem embarca não sai ileso. Embora saibamos que Eros não morre, eventuais sequelas, entretanto, permanecem. O que explica por que muitas pessoas passam a jurar nunca mais se apaixonarem.

Um olhar em retrospecto e nos surpreendemos como é possível aquela relação tão bonita, tão íntima, tão forte e tão intensa... acabar! Um minuto de pausa e estranhamos como somos estúpidos e limitados... por que afinal tanto gasto financeiro, tanto investimento emocional, quanto tempo desperdiçado.
É difícil.

E o mais difícil é admitir que essa aventura, por mais arriscada e problemática que seja, é entretanto o que nos dá o tempero da vida e da juventude.

Pode-se filosofar à exaustão... de nada adianta. Tudo cai por terra quando o objeto amado se aproxima e nos derretemos, esquecendo todos os princípios e aquilo que jurávamos fazer ou dizer a cinco minutos atrás.

A modernidade líquida e a internet resguardam os jovens de hoje de ‘tocos’ e frustrações. Agilizam e facilitam encontros. Porém precipitam a chegada de uma época em que a quantidade desidrata a qualidade, em que o gozo se divorcia do prazer.
Daí o dilema que todos conhecemos bem.

No amor, assim como na amizade, é preciso compromisso, entrega e reciprocidade, algo cada vez mais raro de se encontrar nesses tempos de pouca paciência, onde preferimos relações mais superficiais, desde que divertidas.

Mesmo sabendo que o amor implica numa experiência única e nos amadurece enquanto seres humanos, o problema é que ele demanda mais tempo e mais esforços, e os riscos de amar e ser destruído por um término de relação nos assusta a ponto de hesitarmos.

A reflexão proposta por de Botton nos ajuda a compreender essa hesitação, com todas as nuances que em geral a acompanham: narcisismo, idealização, insegurança etc.

O livro tangencia um sentimento dúbio partilhado por todos nós: como é fácil e divertido um match hoje em dia!
Apesar de toda tecnologia e comodidades, seguimos vazios, infelizes e solitários.


terça-feira, 10 de novembro de 2020

Questionário de política

 

Esta pesquisa tem o objetivo de ajudá-lo a familiarizar-se com um vocabulário básico de política. Há conceitos elementares sobre leis, a estrutura dos três poderes etc. Mas há também alguns itens sobre conceitos, fatos e acontecimentos da política mais recente. Compreende-se que uma bagagem mínima sobre política será útil tanto para as nossas discussões em sala como para a vida prática.

 Como a atividade deve ser confeccionada?

INTEIRAMENTE À MÃO, NO CADERNO. Não serão aceitos trabalhos digitados.  Além de responder às perguntas, é preciso copiá-las, infelizmente! E por um motivo simples: não são apenas as respostas que importam.

 Você pode copiar apenas a parte principal das questões (em negrito). Porém lembre-se da importância de preparar uma resposta para todo o enunciado.

 Use letra legível e faça devagar o trabalho, procurando prestar atenção ao que está escrevendo. Evite a caligrafia rápida, aquela que você nem observa o que escreve e acaba incidindo em erros.

 1)     Quem são os três poderes de nossa república? Segundo a Constituição, como deve ser a relação entre eles?

 2)   Responda nesta ordem: quem ocupa o poder legislativo na cidade, no estado e em nosso país?

 3) Ainda na mesma ordem: quem ocupa o poder executivo na cidade, no estado e em nosso país?

 4)  Quais são as três instâncias do Poder Judiciário?

 5)  O que é o Supremo Tribunal Federal? Qual a sua composição? O que ele julga?

 6)      No Congresso Nacional, qual é a diferença de representatividade no senado e na Câmara, ou seja, quantos representantes, por estado, ocupam cada uma das casas? E quanto tempo dura o mandato de senador e de deputado federal?

 7)      O que é o princípio da impessoalidade? Por que ele é importante?

 8)      O que é um Projeto de Lei? Quem pode propô-lo? Como ele tramita no Congresso Nacional?

 9)      O que é uma Emenda Constitucional? Quais os critérios e exigências para ela ser votada? Que tipo de conteúdo recai nesse âmbito?

 10)   O que é um Partido Político? Qual a sua função?

 11)   O que é o quociente eleitoral? Nas eleições para vereador e deputado nós votamos por partido ou no candidato? Por que é importante saber disso?

 12)   O que é a proposta do voto distrital misto? Que benefícios ela traria?

 13)   Qual a função da imprensa numa sociedade democrática? Quais os pilares dela?

 14)   O que é o conceito de opinião pública? De que se reveste? Qual a sua importância?

 15) Escolha dois dilemas da democracia brasileira. E explique por que os dois dilemas escolhidos por você são dignos de destaque.

 

Dilema é uma palavra que evoca duas perspectivas que levam pra caminhos diferentes, às vezes opostos. Portanto, para o nosso objetivo aqui, dilema evoca realidades que expressam prós e contras, ganhos e prejuízos. É um dilema porque ao destacar um aspecto (positivo, importante), não temos como negar ou esquecer o outro lado (negativo, deficitário).