terça-feira, 10 de novembro de 2020

Questionário de política

 

Esta pesquisa tem o objetivo de ajudá-lo a familiarizar-se com um vocabulário básico de política. Há conceitos elementares sobre leis, a estrutura dos três poderes etc. Mas há também alguns itens sobre conceitos, fatos e acontecimentos da política mais recente. Compreende-se que uma bagagem mínima sobre política será útil tanto para as nossas discussões em sala como para a vida prática.

 Como a atividade deve ser confeccionada?

INTEIRAMENTE À MÃO, NO CADERNO. Não serão aceitos trabalhos digitados.  Além de responder às perguntas, é preciso copiá-las, infelizmente! E por um motivo simples: não são apenas as respostas que importam.

 Você pode copiar apenas a parte principal das questões (em negrito). Porém lembre-se da importância de preparar uma resposta para todo o enunciado.

 Use letra legível e faça devagar o trabalho, procurando prestar atenção ao que está escrevendo. Evite a caligrafia rápida, aquela que você nem observa o que escreve e acaba incidindo em erros.

 1)     Quem são os três poderes de nossa república? Segundo a Constituição, como deve ser a relação entre eles?

 2)   Responda nesta ordem: quem ocupa o poder legislativo na cidade, no estado e em nosso país?

 3) Ainda na mesma ordem: quem ocupa o poder executivo na cidade, no estado e em nosso país?

 4)  Quais são as três instâncias do Poder Judiciário?

 5)  O que é o Supremo Tribunal Federal? Qual a sua composição? O que ele julga?

 6)      No Congresso Nacional, qual é a diferença de representatividade no senado e na Câmara, ou seja, quantos representantes, por estado, ocupam cada uma das casas? E quanto tempo dura o mandato de senador e de deputado federal?

 7)      O que é o princípio da impessoalidade? Por que ele é importante?

 8)      O que é um Projeto de Lei? Quem pode propô-lo? Como ele tramita no Congresso Nacional?

 9)      O que é uma Emenda Constitucional? Quais os critérios e exigências para ela ser votada? Que tipo de conteúdo recai nesse âmbito?

 10)   O que é um Partido Político? Qual a sua função?

 11)   O que é o quociente eleitoral? Nas eleições para vereador e deputado nós votamos por partido ou no candidato? Por que é importante saber disso?

 12)   O que é a proposta do voto distrital misto? Que benefícios ela traria?

 13)   Qual a função da imprensa numa sociedade democrática? Quais os pilares dela?

 14)   O que é o conceito de opinião pública? De que se reveste? Qual a sua importância?

 15) Escolha dois dilemas da democracia brasileira. E explique por que os dois dilemas escolhidos por você são dignos de destaque.

 

Dilema é uma palavra que evoca duas perspectivas que levam pra caminhos diferentes, às vezes opostos. Portanto, para o nosso objetivo aqui, dilema evoca realidades que expressam prós e contras, ganhos e prejuízos. É um dilema porque ao destacar um aspecto (positivo, importante), não temos como negar ou esquecer o outro lado (negativo, deficitário).

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Saudade

 

Gostaria de apresentar, abaixo, um texto que há um ano eu escrevi e partilhei com os colegas professores.

Há coisas que nos marcam, mas há pessoas que quando passam por nós deixam um marca indelével.

A experiência de viver e descobrir é uma aventura singular. 

E algumas oportunidades são raras. 

Quando uma interrupção cruel e abrupta acontece, o silêncio nos engalfinha. 

Na falta de palavras, o que resta é a saudade. 

Muito obrigado, Isa! Muito obrigado, 2ºD - 2019! 

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Estou surpreso! 🙆🏻‍♂

Há um tempo no magistério, a gente vai naturalizando e se acostumando com algumas coisas, acha que já viu tudo.
Eu que, como tantos, já não entro na sala esperando muito...
Piloto automático. Prazos. Rotina.
Não presto atenção no detalhe. É a correria!

Fui desperto.
Deixa eu contar essa história.

Não foi um dia como outro. Era pra ser diferente.
Sabe quando você tem a oportunidade de presenciar algo único?
Um alinhamento de estrelas.

Foi assim. Com dia, hora e lugar determinado.
Quis o destino reunir na sala do segundo D alguns alunos ímpares.

Um seminário sobre o conceito de eudaimonia.
Escolhas pessoais, apego, convenções sociais, autoconhecimento, amizade, vida simples, prazer...
Sabe o que é ver seus alunos se apropriarem dos conceitos e alçarem voo por conta própria?
Passeavam pelos autores, articulavam conceitos, falavam de temas caros a nossa vida.

Nunca tinha visto aquilo. Não daquele jeito.

O zelo na preparação. O cuidado e o empenho. O friozinho na barriga.
E aos poucos foram se desdobrando na minha frente aquelas apresentações tão esmerosas... Aquilo era uma sinfonia suave e tocante.
Ganhava contornos próprios um seminário consistente, aberto a inúmeras possibilidades.

Foi uma surpresa! Um tapa na cara! 🙉
Acho que não estava preparado para ver aquilo. Talvez não acreditasse ser mais possível.
Alunos de escola pública... Gente tão simples... enfim, aquelas coisas que repetimos todos os dias.

Mas aquilo continha uma verdade. E eu estava ali. Confuso. Deslumbrado.
Nem tive tempo de raciocinar. Apenas senti.

Me senti como a ave que vê o filhote voar por conta própria no primeiro teste... sem medo e sem auxílio.
Eu era o jardineiro que fazendo a adubação costumeira, se surpreende com a chegada da súbita e abundante florada.

Ver o pulsar daquelas vidas, o desabrochar daqueles talentos, a coragem e a delicadeza juntos, os olhinhos cheios de esperança, o desejo de acertar e de ser feliz...
Toda aquela energia, tudo convergido e misturado aos temas e aos exemplos que partilhávamos...
Chegou um momento em que tive um engasgo e fiquei sem saber o que falar. 😟

Sério: o que você daria para ver seus alunos, durante uma aula, mostrarem do que realmente são capazes?
Veja: o mérito não é meu. Dispenso elogios.
Nós, professores, somos instrumentos.

Em momentos epifânicos como esses nós temos uma oportunidade única de vislumbrar a real dimensão do nosso trabalho.
E, de verdade, sentimos medo... porque a responsabilidade pelas vidas que passam por nós é muito grande.

Em compensação, sobe um sentimento de gratidão, uma profunda alegria.
Você tem a certeza de que vale a pena, de que está no lugar certo.
Tua vida adquire um sentido, um significado.

Sempre nos perguntam o que a gente quer como professor.
Eu não tenho resposta pronta, mas hoje posso dizer que fui recompensado muito além das minhas expectativas.  

Um dia, ao lado de alguns desses alunos que eu não conhecia, alguém me disse: “Olha, estou te entregando algo... algo especial... pra você cuidar!
Na hora eu não entendi.
Essa pessoa – que sabe bem o que é ter, o que é investir e o que é perder – prenunciou.
Eu fiz o que pude.  O resultado veio. E foi arrebatador!

Hoje eu partilho com vocês essa experiência a fim de inspirá-los.
Oxalá essa e outras experiências positivas que vocês conhecem e que poderiam ser socializadas nos sirvam como uma lufada de ar em meio à atmosfera carregada que vivemos.
Estamos precisando disso!

Tudo bem: a gente sabe da importância de falarmos do futuro, da política, do coletivo, das questões macro... Mas e o agora? E a vida e as potencialidades que todos os dias estão ali pertinho de nós, cujo significado transcende uma ideologia ou um ciclo de tempo?  

Simplificamos. Dizemos que está tudo interligado ou que é tudo a mesma coisa.
Será? Não se trata de um desafio à nossa hipermetropia?

Porque, preocupados com “as grandes questões”, somos excessivamente atraídos para o que está acontecendo lá longe. A longo prazo, isso nos desencoraja e enfraquece. A impressão é que nosso “trabalho de formiguinha” tem um resultado quase nulo.

Tudo bem! Para alguns pode ser pouco olhar para dentro, para mais perto!
Mas é o sagrado no cotidiano! É onde a gente pode fazer a diferença.
É ali que coisas como a gratificação podem brotar.
É onde você pode alcançar aquela pitada de significado que tantas vezes, consciente ou inconscientemente, busca.

Pode ser, não?
Que tal?

Uma lufada de ar...
Uma surpresa gratificante...
Uma bem-vinda pontinha de significado...

Bem pertinho.
À nossa disposição!

Bom fim de semana a todos

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Música, interrogações éticas e rap (2ºs anos)


Post atualizado em 03/05/2020 às 12h25

Seja bem-vindo!

Temas clássicos da filosofia podem ser ilustrados pela música? Certamente!
Estamos discutindo ética, debatendo as ações humanas e o que chamamos de valores. Já fizemos a contraposição entre autonomia e heteronomia. Já vimos que o poder que tem a razão sobre a nossa vontade por vezes é vulnerável. Se os valores mudam conforme a época e o contexto, também é verdade que temos uma consciência moral que não pode ignorar a pessoa do outro ou simplesmente esquecer a responsabilidade dos próprios atos. Em resumo, falar de ética envolve um conjunto de elementos intrincados, em meio aos quais questões sobre a decisão individual se intercalam com problemas sociológicos.

Nessa aula, vamos falar de ética a partir do que nos sugerem algumas músicas, observando letras, comparando intérpretes e, claro, comentando conceitos que estudamos.

Comecemos de leve, ouvindo “Vítimas da sociedade”, de Bezerra da Silva:


O samba do carioca Bezerra da Silva é imagético. Quem não o conhece? Ao ouvi-lo, “entramos no morro”, ou seja, “vemos” a desigualdade, topamos com as mazelas da favela. Ele faz uma crônica da violência policial e explora a questão do tráfico, do consumo de drogas e, particularmente, a ambiguidade da ética da malandragem. Interessante, não? A riqueza de sua música está numa expressão bem autêntica (carregada, por exemplo, de gírias peculiares e acentuações) que entrega para o ouvinte uma realidade concreta, sem moralismos.
De Bezerra, não dá pra esquecer canções como “Eu sou favela” e “Malandragem dá um tempo”.

Além do samba, outros estilos também oferecem intérpretes cujas canções são ricas em conteúdo. No Rock, teríamos uma lista grande de intérpretes. Veem-me à mente um Raul Seixas, um Cazuza e uma banda como Legião Urbana. Pense nos conflitos internos que vivemos para compreender e nos adequar às regras da sociedade, para sobreviver em meio à coletividade com um propósito que nos dê sentido à vida. O que dizer de Santo Cristo, o personagem emblemático de “Faroeste Caboclo”, de Legião Urbana, que encarna essa luta interior numa saga por justiça ao seu próprio modo? A música que ensejou filme homônimo expõe as diferentes facetas de uma pessoa, com uma trajetória, com seus conflitos pessoais. Se suas escolhas foram as mais razoáveis, isso dá uma boa discussão. 


Na sua opinião, depois dos anos 2000, por exemplo, que artistas ou bandas mereceriam ser adicionadas à uma playlist indispensável de Rock? Uma playlist que leve em conta música e letra? Os comentários estão abertos. Se quiser, pode opinar.

Se voltarmos o nosso olhar (ou nossos ouvidos) para a MPB, temos nomes iconográficos como os de Chico Buarque e Caetano Veloso, mas temos desconhecidos como O Teatro Mágico e também Tom Zé. Já ouviram alguma coisa desses dois últimos? Aposto que não!

É curioso que artistas como Tom Zé, por exemplo,  obtenham reconhecimento no exterior mas aqui no Brasil sejam completos desconhecidos. Talvez falte a professores, como eu, divulgar e tocar mais esse tipo de música –  tô fazendo aqui mea culpa!
No hiperlink acima, Jon Pareles faz um review do show to Tom Zé prá lá de elogioso ao The New York Times, mencionando, num dos trechos que... no Brasil, Zé, 80 anos, é conhecido como pioneiro, funileiro, brincalhão, pensador profundo e inseto. Ele fazia parte da confiança cerebral original de Tropicália, o movimento que trouxe um modernismo psicodélico ao pop brasileiro na década de 1960.

Funileiro, pensador profundo e inseto? Puxa!
Bem, ouça essa canção de Tom Zé e tire suas conclusões por que ele não é tão palatável ao gosto popular: 


Com o intuito de dar foco e consistência ao nosso objetivo de discutir ética a partir de algumas músicas, talvez fosse importante nos voltar a temas que ocupam o imaginário e o cotidiano das nossas juventudes. Quem são os jovens que frequentam o nosso colégio? Onde moram? Que perfis socioeconômicos têm?

Sabemos que em sua maioria, são jovens de periferia, que vivem sob o imperativo da sobrevivência, ou seja, não têm a vida ganha e se quiserem alcançar o mínimo de mobilidade social, vão precisar estudar e ralar bastante. Eles vivenciam uma realidade com muitos desafios, em alguns casos, até vulnerabilidade. Em conversas básicas, ganham proeminência questões como amadurecimento, pobreza, autoestima, violência, família, drogas, machismo, trabalho. Olhando esse rol de temas, é difícil não reconhecer o leque de possibilidades que um estilo como o RAP ofereceria para discutir tais coisas.

O que é o rap? O rap é a rua... com o que ela carrega de melhor e de pior!
Não se enquadraria no estilo de “música pra todos”, “confortável”, politicamente correta. Os não familiarizados vão se lembrar das rimas, é óbvio, mas vão associar ao estilo as batidas secas, as letras agressivas, um pendor para explorar a violência, a vingança, a desigualdade, enfim temas nem sempre condescendentes. Grupos como Facção Central, por exemplo, catalisam uma revolta que inverte a lógica da ética, uma crueza que incomoda, que assusta e que nos lança para “o outro lado”. É a voz do ladrão, do excluído invisível, do detento, é o repúdio lançado pelos quem estão fora dos paradigmas de aceitabilidade da sociedade, sem chance, sem projeto, sem futuro. Não é simplesmente denúncia, é uma música de resistência. Algo contrastante, árduo, desafiador.

Na postagem anterior aqui no blog, a segunda música que eu sugeri que você ouvisse é “Tô ouvindo alguém me chamar”, do Racionais MCs. O álbum de que essa canção faz parte foi adicionado à lista do vestibular da Unicamp 2020. Ela tem bastante do realismo agressivo que estamos falando e, como fará parte da nossa próxima atividade, disponibilizo aqui novamente o vídeo pra você conferir.





É importante ressaltar, porém, que assim como outros estilos, o rap tem marcas e temperos que diferem bastante, conforme o intérprete. Poderíamos citar a música de um Criolo, por exemplo. Ainda no propósito de diversificar, uma rápida panorâmica em torno das canções de um Emicida nos leva para outros caminhos. Trata-se de uma música eclética e complexa, que funde o rap com o samba, o funk, o hip hop e mesmo o rock. Tem a rima pesada, mas tem coisa mais leve. Os próprios temas não são restritos. Há riqueza de sampleamento. Encontramos ali crítica social, política, mas também resíduos de subjetividade, de elementos bem cotidianos, nos quais a vida brota às vezes singela, porém encantadora. É algo realmente peculiar!



O rap abre um leque enorme para a discussão de temas sociológicos, mas é possível também encontrar canções que nos levam a pensar a vida, as escolhas de pessoas comuns, que tomam determinadas atitudes frente ao que têm diante de si, sua origem e suas condições, suas necessidades mais básicas. Problematizar os desafios e a realidade de nossos jovens a partir do rap é, sem dúvida, uma alternativa bem-vinda.
Você já ouvia rap? Que grupos conhece? Alguma canção em especial?

ATIVIDADE: Eu gostaria de concluir este post lançando uma questão pra você. Se você não escuta rap, escolha outro estilo musical e uma canção da sua preferência. Apresente-me uma música que fala nessa perspectiva de retratar o dia a dia, problematizando os valores que nos circundam e as escolhas que fazemos. Após dizer o nome da canção e do(s) intérprete(s), selecione um trecho dela que oferece uma relação clara com o que estamos tratando aqui e faça suas considerações. Isso pronto, volte ao classroom e poste sua resposta no formulário lá disponível.

É isso!