Gostaria de apresentar, abaixo, um texto que há um ano eu escrevi e partilhei com os colegas professores.
Há coisas que nos marcam, mas há pessoas que quando passam por nós deixam um marca indelével.
A experiência de viver e descobrir é uma aventura singular.
E algumas oportunidades são raras.
Quando uma interrupção cruel e abrupta acontece, o silêncio nos engalfinha.
Na falta de palavras, o que resta é a saudade.
Muito obrigado, Isa! Muito obrigado, 2ºD - 2019!
-----------
Estou surpreso! 🙆🏻♂
Há um tempo no magistério, a gente vai naturalizando e se acostumando com algumas coisas, acha que já viu tudo.
Eu que, como tantos, já não entro na sala esperando muito...
Piloto automático. Prazos. Rotina.
Não presto atenção no detalhe. É a correria!
Fui desperto.
Deixa eu contar essa história.
Não foi um dia como outro. Era pra ser diferente.
Sabe quando você tem a oportunidade de presenciar algo único?
Um alinhamento de estrelas.
Foi assim. Com dia, hora e lugar determinado.
Quis o destino reunir na sala do segundo D alguns alunos ímpares.
Um seminário sobre o conceito de eudaimonia.
Escolhas pessoais, apego, convenções sociais, autoconhecimento, amizade, vida simples, prazer...
Sabe o que é ver seus alunos se apropriarem dos conceitos e alçarem voo por conta própria?
Passeavam pelos autores, articulavam conceitos, falavam de temas caros a nossa vida.
Nunca tinha visto aquilo. Não daquele jeito.
O zelo na preparação. O cuidado e o empenho. O friozinho na barriga.
E aos poucos foram se desdobrando na minha frente aquelas apresentações tão esmerosas... Aquilo era uma sinfonia suave e tocante.
Ganhava contornos próprios um seminário consistente, aberto a inúmeras possibilidades.
Foi uma surpresa! Um tapa na cara! 🙉
Acho que não estava preparado para ver aquilo. Talvez não acreditasse ser mais possível.
Alunos de escola pública... Gente tão simples... enfim, aquelas coisas que repetimos todos os dias.
Mas aquilo continha uma verdade. E eu estava ali. Confuso. Deslumbrado.
Nem tive tempo de raciocinar. Apenas senti.
Me senti como a ave que vê o filhote voar por conta própria no primeiro teste... sem medo e sem auxílio.
Eu era o jardineiro que fazendo a adubação costumeira, se surpreende com a chegada da súbita e abundante florada.
Ver o pulsar daquelas vidas, o desabrochar daqueles talentos, a coragem e a delicadeza juntos, os olhinhos cheios de esperança, o desejo de acertar e de ser feliz...
Toda aquela energia, tudo convergido e misturado aos temas e aos exemplos que partilhávamos...
Chegou um momento em que tive um engasgo e fiquei sem saber o que falar. 😟
Sério: o que você daria para ver seus alunos, durante uma aula, mostrarem do que realmente são capazes?
Veja: o mérito não é meu. Dispenso elogios.
Nós, professores, somos instrumentos.
Em momentos epifânicos como esses nós temos uma oportunidade única de vislumbrar a real dimensão do nosso trabalho.
E, de verdade, sentimos medo... porque a responsabilidade pelas vidas que passam por nós é muito grande.
Em compensação, sobe um sentimento de gratidão, uma profunda alegria.
Você tem a certeza de que vale a pena, de que está no lugar certo.
Tua vida adquire um sentido, um significado.
Sempre nos perguntam o que a gente quer como professor.
Eu não tenho resposta pronta, mas hoje posso dizer que fui recompensado muito além das minhas expectativas.
Um dia, ao lado de alguns desses alunos que eu não conhecia, alguém me disse: “Olha, estou te entregando algo... algo especial... pra você cuidar!
Na hora eu não entendi.
Essa pessoa – que sabe bem o que é ter, o que é investir e o que é perder – prenunciou.
Eu fiz o que pude. O resultado veio. E foi arrebatador!
Hoje eu partilho com vocês essa experiência a fim de inspirá-los.
Oxalá essa e outras experiências positivas que vocês conhecem e que poderiam ser socializadas nos sirvam como uma lufada de ar em meio à atmosfera carregada que vivemos.
Estamos precisando disso!
Tudo bem: a gente sabe da importância de falarmos do futuro, da política, do coletivo, das questões macro... Mas e o agora? E a vida e as potencialidades que todos os dias estão ali pertinho de nós, cujo significado transcende uma ideologia ou um ciclo de tempo?
Simplificamos. Dizemos que está tudo interligado ou que é tudo a mesma coisa.
Será? Não se trata de um desafio à nossa hipermetropia?
Porque, preocupados com “as grandes questões”, somos excessivamente atraídos para o que está acontecendo lá longe. A longo prazo, isso nos desencoraja e enfraquece. A impressão é que nosso “trabalho de formiguinha” tem um resultado quase nulo.
Tudo bem! Para alguns pode ser pouco olhar para dentro, para mais perto!
Mas é o sagrado no cotidiano! É onde a gente pode fazer a diferença.
É ali que coisas como a gratificação podem brotar.
É onde você pode alcançar aquela pitada de significado que tantas vezes, consciente ou inconscientemente, busca.
Pode ser, não?
Que tal?
Uma lufada de ar...
Uma surpresa gratificante...
Uma bem-vinda pontinha de significado...
Bem pertinho.
À nossa disposição!
Bom fim de semana a todos!