A construção de um painel provocador, inteligente, com questões úteis
e pertinentes. Essa é a proposta de uma atividade de política que trata de
democracia às vésperas de uma eleição majoritária. Tendo como ponto de partida
o capítulo 17 do Filosofando. Tendo como referência nossas análises em torno do
questionário de política que acabamos de confeccionar. Será possível reunirmos
algumas questões e transformá-las em perguntas realmente relevantes, e com isso
participar do debate sobre a eleição, apresentando contribuições que possam ir
ao encontro do que as pessoas estão conversando?
Temas mais apontados:
1)
Sobre as
regras do jogo: Não tem como ser bem sucedido em um jogo se não você não
conhece as regras dele. Você sabe como funciona nosso sistema eleitoral? Nas
eleições para deputados, nós votamos no candidato ou no partido?/ Já atentou
para o fato de que a eleição para o legislativo é tão importante, se não
mais do que a eleição para o executivo?/ Como quebrar as oligarquias políticas, em que políticos de carreira lançam os filhos como numa continuidade? A questão de votar por gênero ou
por grupos minoritários é pertinente? Por exemplo, mulheres devem votar em mulheres? Negros,
em negros? Ganhamos alguma coisa ao escolher votar apenas em candidatos novos, que nunca
exerceram um cargo público, colocando a rotatividade como um princípio absoluto?/ Existe diferença entre voto branco e voto nulo?/ O rechaço da população aos políticos que estão aí pode provocar uma nova eleição?
2)
O
protagonismo do jovem na política: Se o idiota é aquele que se coloca
alheio à política, de que modo o jovem pode colocar-se a par dela? Como
ocupar a política ou ter uma visão mais inteligente e aprimorada? Não adianta
reclamar e não se envolver. Que livros, jornais ou canais no Youtube nos ajudariam
nessa tarefa? Você já se vê como uma pessoa de direita ou de esquerda? Por que isso é algo importante em termos de participação cidadã?
3)
Marketing,
pesquisas eleitorais e fake news: Numa eleição para presidente, é de se esperar
que os candidatos façam de tudo para chegar ao eleitor e, sobretudo, convencê-lo.
Nas últimas campanhas, entretanto, somas enormes de dinheiro foram destinadas
a marqueteiros especializados em “construir” uma imagem ou personagem. As
crises vindas mais tarde mostraram que os programas políticos apelam a um
excesso de faz-de-conta para ganhar os eleitores. Hoje em dia, é preferível
candidatos e propostas mais realistas.
Sobre as
pesquisas de opinião, embora algumas delas sejam sérias, não se pode confiar em
todas. Além disso, ao apontar uma ‘tendência dos votos’, elas provocam pressão considerável sobre os eleitores que, não tendo seu candidato uma boa posição nas pesquisas, sentem que seu voto de convicção pode ser inútil. Portanto, antes de acompanhar pesquisas de
opinião, é importante você formar seu juízo de forma consistente, para não ser
facilmente balançado ou influenciado por elas.
O caso
das fake news é diferente. Elas não são poucas como as pesquisas de opinião.
Pior que isso, elas muitas vezes são difíceis de identificar. Às vezes, pessoas
sensatas e cuidadosas passam fake news, por descuido ou dada a verossimilhança
da notícia. Por conta disso, Facebook e outras redes sociais, Google, agências
de notícias e outras mídias têm se comprometido com a identificação e combate
às fake news. A folha
de S. Paulo, por exemplo, tem uma seção em destaque para o tema, onde
jornalistas se encarregam de checar a veracidade de notícias suspeitas enviadas
por leitores em dúvida. Todo cuidado é pouco quando o assunto são notícias
falsas.
4)
Da motivação do voto: A gente sabe que
uns votam porque o candidato é contra tal coisa, outros porque “todo mundo na
família vai votar nele”, outros, ainda, porque foi indicado por uma pessoa
querida... Esses tipos de motivação não são razoáveis. Pior: o ato de votar num
candidato por ojeriza a outro (o chamado voto de protesto ou voto de repulsa), dificilmente resulta em ganhos, porque
alternativas para problemas complexos não vão surgir disso. A motivação para
votar deve partir da análise de uma conjuntura, de um programa, de uma soma de propostas; a
motivação deve vir de uma convicção ideológica sua, ou seja, de sua análise do candidato,
do partido e de como seus interesses podem ser representados.
5)
Clichês
de política: Esse tem que ter! Quem nunca se interrogou ou se divertiu com
algumas expressões, repetidas à exaustão, em época de eleição? Sabe aqueles
chavões vazios de conteúdo, que remetem a ideias vagas, preconceituosas ou
inconsistentes? Pois é! Uma lista assim pode nos ajudar a escapar das lorotas
que nos perseguem na internet, na reunião de família, na igreja, na diversão ou
no trabalho.
- “O povo é burro e não sabe votar” – É o tipo de fala inconsistente
e preconceituosa. Porque julga a todos sem distinção, porque olha apenas o
resultado e não o processo, porque, enfim, não há como estabelecermos se e o
quanto as pessoas são burras! Muitas vezes os eleitores confiam em candidatos
que têm uma boa ficha, mas que depois desandam. Em outra situação, eleitores,
sabendo que prisões, discursos e poses são recursos muito utilizados para
propaganda política, esses eleitores podem suspender o julgamento sobre o que
veem, colocando-se numa perspectiva mais pragmática, perguntando-se como vai
ser a sua vida com este ou aquele governo: esse raciocínio é razoável. Outras
inúmeras situações são possíveis. Numa palavra, “acusar burrice”... não traz nada de produtivo.
- Apoio da Igreja?
Insuficiente. Política envolve a defesa de interesses. Pessoas que comungam o
mesmo credo podem não ter exatamente a mesma ideologia. É possível haver numa
mesma assembleia patrões em empregados, ou seja interesses diferentes. É válido
conversar com o grupo a que você pertence, porém a decisão e a responsabilidade
sobre o voto é individual e envolve uma análise complexa, que não raro excede o
que as preocupações doutrinárias geralmente apontam.
- Candidato
preparado? Ideia vaga. O que é estar preparado? Pergunta complexa essa.
Dos presidentes anteriores, quem estava preparado? Não dá pra identificar como
preparado o que possui um doutorado, o que tem uma carreira de sucesso na
iniciativa privada, ou o que é dono de uma televisão ou de um patrimônio
invejável. Fazer política envolve dialogar, liderar, projetar, ouvir, ser
sensível, comprometer-se com determinadas coisas... enfim são muitos itens que
não se resumem a uma carreira de sucesso tão-somente. Por isso o eleitor tem de
fazer análise, sopesando diversos aspectos da figura e do histórico do
candidato.
- “Se fulano for
eleito, vai acabar com...” Inconsistente e geralmente preconceituosa..
É um péssimo refrão, comumente utilizado por eleitores inflamados e que
polarizam algumas posições. Não se pode acabar
com nada, ou transformar alguma coisa arbitrariamente, simplesmente porque
vivemos numa democracia, com instituições, leis, competências e
responsabilidades estabelecidas. Portanto, essa ideia de que “fulano vai
resolver... ou acabar com...” é coisa de analfabeto político.
- Votar certo?
Ideia vaga. Geralmente em agremiações como igrejas, é comum ouvirmos isso.
Líderes enchem o peito para dizer algo que não ajuda muito. Como se houvesse,
no meio dos rostos dos candidatos, um deles que é o “certo”, esperando para ser
descoberto. Ora, isso não existe. Política envolve a defesa de interesses e
para isso, é preciso julgamentos complexos. Simplificações grosseiras são
contraproducentes.
- Sou de direita...
ou sou de esquerda? Pode ser vaga.
Das definições jornalísticas até as acadêmicas, o leque de interpretações é
amplo. Quem usa uma expressão como essa pode não saber os contornos precisos do
que está dizendo. Causa mais dúvidas do que ajuda (confira o exemplo
do prof. Karnal) . É preferível que você diga que coisas são prioritárias
pra você: por exemplo, combate a desigualdade, defesa da liberdade,
diminuição da pobreza etc... Com isso, você se livra de ambiguidades e fala
claramente o que deseja.
- Ver o histórico
do candidato? Insuficiente, quando apresentada como a solução para se
votar bem. O histórico do candidato é condição necessária, mas não suficiente
para o escolhermos. Partido, programa de governo e coligações são algumas das
coisas que também fazem diferença na hora de escolhermos. Há eleitores que procuram
saber ainda outras coisas, como vida pessoal, religião, detalhes da vida profissional etc.
- “Voto
facultativo resolveria nossos problemas” Inconsistência. Não há
pesquisas definitivas a respeito disso. Eu, por exemplo, creio que ela traria benefícios, porém não é possível afirmar com segurança
que se liberássemos para votar apenas quem quer, isso implicaria necessariamente uma melhora na qualidade dos
votos. Há quem diga que o problema da compra de votos poderia aumentar. Também
corremos o risco da baixa participação que, aumentando, poderia comprometer a
legitimidade da eleição.
- Urna eletrônica
é fraude. – Inconsistência. Num mundo em que tudo caminha para a
automação e a digitalização, é estranho ver pessoas estranhar o avanço das urnas
eletrônicas. Os bancos, por exemplo, estão todos na internet! E então:
conseguimos girar, com segurança, milhões de reais todos os dias pela rede
através de máquinas... mas não conseguimos produzir urnas eletrônicas seguras? Por favor: não
dá pra aceitar isso. O investimento do TSE a fim de garantir a segurança e na lisura das urnas precisa torna-se de conhecimento de todos. Para encerrarmos as lendas urbana em torno desse assunto. E para não dar mais corda à retórica de pessoas mal intencionadas.