quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Portfolio sobre as teorias contratualistas (2ºs anos)

Os contratualistas são um componente indispensável em filosofia política.
A proposta de nossas aulas é discutir as premissas do que Hobbes, Locke e Rousseau apresentaram.

Confira aqui um roteiro de leitura com a indicação de obras, seleção de alguns capítulos e apontamentos sobre tópicos cruciais.

Você vai precisar dele impresso para fazer a atividade.
Se preferir, há uma matriz no xerox pra você tirar cópia.

A atividade é individual.
Uma cópia do esqueleto oferece espaço suficiente para trabalharmos os 3 filósofos.
Entregue tudo à caneta, com letra legível. 

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Atividade sobre Maquiavel (2ºs anos)

Atendendo a pedidos dos alunos e tendo em vista a etapa que ainda queremos percorrer sobre os Contratualistas, eu diminui o conteúdo desta atividade e a simplifiquei. A proposta é a mesma, de fazer algo parecido com a segunda fase da UEL. Porém, além do livro didático, estou indicando apenas um texto como auxílio. Atenção: não é preciso fazer todas as questões, mas apenas uma. Isso mesmo: escolha uma entre as três questões para dissertar. 

Questão 1) Em 10 a 12 linhas, articule em texto único os pontos a seguir: 

a) Maquiavel: a defesa da política como ciência e a adoção de uma perspectiva realista, inerente à atividade política;
b) As credenciais do político e por que virtù e fortuna são imprescindíveis.  

Questão 2) Em 10 a 12 linhas, articule em texto único os pontos a seguir: 

a) Como está o conceito de laicidade na política brasileira?
b) Em que sentido Maquiavel advogava a autonomia da política em relação ao discurso moral ou religioso?

Questão 3) Em 8 a 14 linhas, articule num só texto os pontos a seguir:

a) Os dilemas, riscos e tensões que emergem da política como a arte de lidar com o conflito e buscar o possível.
b) A política como uma construção humana e seu caráter pragmático (voltado para resultados).

O texto de auxílio está no site InfoEscola. Clique aqui para ser direcionado para lá.

domingo, 10 de novembro de 2019

Pontos sobre o documentário "Arquitetura da Destruição"


Se você ainda não viu o documentário, clique aqui para ser direcionado.

Se você já viu, clique aqui para baixar alguns pontos e reflexões extraídas.

Um teatro em tempos de hiperpolarização


Essa semana o escritor Luiz Hanns, na casa do saber, lançou um vídeo em que ensina como lidarmos com pessoas irritadas. Indivíduos de pavio curto, diante de situações em que suas expectativas não se concretizam ou sua referência de certo e errado são confrontadas, tendem a taxar o outro e atribuir a ele intenções negativas. Hanns conclui que é preciso um reaprendizado para mudar os padrões de irritabilidade.

A internet se tornou talvez a principal válvula de escape de nossas frustrações e irritações. É verdade que ela nos aproxima de quem pensa como nós. A pertença a um grupo em que estão milhares de pessoas nos conforta e parece conferir ‘legitimidade’ às nossas ideias. Para muita gente, isso é o esteio de sua própria identidade. Independentemente do viés ideológico, é difícil exercitar o pensamento divergente quando estamos imersos numa bolha, embebidos de uma ideologia.

Mas a internet tem seus perigos. Hoje sabemos que à medida que utilizamos uma ferramenta como o Google, por meio de algoritmos ele identifica o nosso perfil, nossas preferências, nossos interesses. Com isso, ele é capaz de oferecer sempre mais daquilo que já estamos predispostos a gostar. É a confirmação e o recrudescimento das bolhas. Portanto, se você vai navegar na internet ou nas redes à procura de informações não enviesadas, esqueça!

Hiperpolarização
Irritabilidade + vida em bolhas + guerra de narrativas políticas são parte do combustível para a polarização que estamos vivendo. A coisa é tão intensa que mesmo pessoas que não têm perfil agressivo, diante da gritaria, do xingamento, da discriminação e da violência, acabam assimilando um pouco dessas reações e reproduzindo-as na internet. Você pode não ser um típico hater, mas o quanto você se deixa ganhar por uma narrativa pode ser medido pelo quão tolerante você é ao ouvir alguém falar algo que você não concorda. Faça o teste!

É curioso dizer, mas a política tem algo de semelhante com a religião, porque contagia, leva a pessoa a se entranhar numa certeza e crer, por princípio, que o errado é o outro, que o outro é cego ou ingênuo, ou pior: que o outro é mal intencionado. O problema está sempre naquele que discorda, ainda que ele seja meu vizinho, meu colega de trabalho ou mesmo meu parente de sangue! Isso é espantoso, não? Pensar que por abraçar uma ideia, uma onda ideológica (que em muitos aspectos é só uma ideia, não tem consistência ou não se realizou) pessoas estejam rompendo com o que há de mais próximo e real, que são os seus amigos e parentes! É surpreendente que muitos de nós não percebamos nada de errado nisso.    

Estamos todos sofrendo. Com as polarizações políticas, ninguém mais escuta ninguém. Rachas e intolerância estão na imprensa, nas redes sociais, na comunidade, em nossas famílias. O que a internet deu foi extensão e visibilidade à ignorância, à repulsa, ao ódio corriqueiro que no passado ficava restrito a mim ou aos meus próximos. Pior que isso, o que esquenta as redes sociais, dá audiência a programas televisivos e gera votos são as coisas negativas, as ameaças, o ódio. Como vamos lidar com isso nós não sabemos ainda. É o Zeitgeist. Talvez ainda tenhamos de sofrer bastante, enquanto indivíduos e enquanto sociedade, até percebermos que não vale a pena continuar nesse belicismo todo.

A repercussão do teatro
A repercussão só pode ser compreendida dentro dessa atmosfera que acabei de apresentar. É bobagem dizer que o teatro continha algo explosivo, novo, ‘subversivo’ etc. Na verdade, a peça não apresentou nada que novelas, filmes e Netflix não mostrem cotidianamente. Portanto, aconteceu de ser com o teatro, mas poderia ter sido com uma aula de sociologia ou de história, com uma exposição de arte, com uma aula de filosofia, enfim qualquer coisa.

A mãe que se apresenta indignada não procura o colégio para saber o que houve. Com os poucos elementos de que dispõe, ela faz o julgamento e vai para as redes sociais. Por quê?
Porque ela quer politizar a questão, expor a sua verdade ideológica e porque... obviamente está interessada em visibilidade. Quem sabe dos planos políticos dela? O sensacionalismo e a espetacularização são o que mais viraliza e projeta pessoas. O resto é conversa.

Se daqui a poucos dias, ninguém mais vai lembrar da repercussão desse teatro, o que resta entretanto, ao lado das ações judiciais, é um profundo desgaste, sobretudo para a direção do colégio. Depois de receber ameaças de morte, execração pública, xingamentos e acusações de diversos matizes, é difícil não reconhecer que, como estão as coisas hoje, reputações e anos de trabalho podem ser arranhados ou até destruídos em menos de uma semana, de forma gratuita e irresponsável. Mais um dos absurdos provocados pela polarização.

Diante disso, nós nos perguntamos: a) existe limite para a polarização? b) na democracia, ganhar uma eleição confere à “narrativa vitoriosa” o direito de inflamar a sociedade, silenciando, perseguindo ou execrando quem pensa diferente?

A
Eu disse há pouco que com a polarização ninguém escuta mais ninguém. Na verdade, ninguém respeita mais ninguém e o clima de perseguição e hostilidade está se alastrando e se intensificando. O episódio com a deputada Joyce Hasselman essa semana comprova isso. Ela subiu à tribuna para revelar os insultos que tem recebido pelas redes sociais. Não satisfeitos em atacá-la, seus ‘inimigos’ agora miram a sua família. Querem intimidá-la, querem destruí-la. Mas quem são seus detratores, afinal?

Hasselman é do partido do presidente, viajou e fez campanha com ele, trabalhou para aprovar suas pautas na Câmara... e agora chora por conta dos ultrajes encomendados pelo filho do presidente! Ou seja, nem os aliados estão isentos das intimidações; nem os mais próximos estão livres de serem linchados. De uma hora para a outra, milícias digitais tocam o terror em cima de quem quer que seja, por que motivo for. Não há qualquer racionalidade, qualquer coerência. Não há mais qualquer limite. Sem querer diminuir a importância, veja que o episódio do teatro no Hugo Simas é, então, uma mostra daquilo que está acontecendo não só aqui, mas em Brasília, em toda parte, todo dia, com todo mundo. Se os adeptos do linchamento digital intimidam e perseguem pessoas do mesmo grupo, o que não farão com os adversários políticos?  

Não dá pra admitir que nossa democracia esteja num período de normalidade. Minha impressão é que as instituições não estão conseguindo conter essa onda desestabilizadora, vide o episódio do envio ilegal de mensagens em massa durante as eleições: até hoje aquilo paira e interroga! O que virá pela frente não sabemos. Ontem, Hasselman usava a internet para ridicularizar oponentes, hoje ela é esculhambada. Tudo pode acontecer. A tentação de usar as redes para intimidar, para polarizar e tocar o terror pode se reverter também contra o grupo dos que estão no poder. Eles se acreditam imunes, mas não estão.

B
A resposta para a segunda pergunta obviamente é não. Numa democracia de verdade, quem vence a eleição, não tem o direito de querer calar ou destruir os oponentes. Pelo contrário, uma oposição consistente e coerente é indispensável para a democracia. Aqui, a necessidade de uma autocrítica se dirige a todos nós, independente da ideologia que professe.

Somos rápidos em falar, em julgar, em criticar os outros. Achamos um absurdo determinadas coisas e nos indignamos.  Apontamos os disparates, os erros de quem pensa diferente de nós. Mas estamos realmente... ouvindo o outro, fazendo o esforço de nos colocar no lugar dele para entender por que ele pensa daquele jeito?
Quando alguém ensaia uma abordagem diferente da nossa, temos a paciência para oferecer uma réplica consistente e respeitosa?
Como esperamos enfrentar a esquizofrenia das redes sociais se não apresentamos um comportamento diferente do que está lá?

A palavra polarização exprime de forma apropriada o que está acontecendo: não importa o lado, o que importa é quando a distância entre os extremos é tão grande que impede qualquer comunicação entre eles.

O problema é que agimos muitas vezes como aquelas pessoas que criticamos. Nos julgamos mais conhecedores, mais inteligentes, mais próximos da verdade. Também exercemos, à nossa moda, intolerância e desprezo. Esquecemos que a política é a arte do possível e que ‘verdade’ é algo que pressupõe debate e consenso, portanto não é algo fixo e determinado, mas uma construção sujeita a revisões e adaptações.

Em tempos de hiperpolarização, a maior de todas as tentações é nos julgar mais puros, dotados de uma ideologia mais pura. Aí a coisa pega, porque a segregação sutilmente se naturaliza e passamos a nos sentir seres humanos melhores que outros. Aí, definitivamente, a diferença impõe uma distância intransponível entre as pessoas.

Embora tensa e insana, a conjuntura pela qual estamos passando nos choca, mas também nos interpela a repensar nosso olhar em relação ao outro, nossa percepção sobre política, nosso comportamento em relação ao coletivo. Pode ser um aprendizado. O que podemos esperar do futuro, aliás, tem muito a ver com o que estamos oferecendo.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Recuperação da prova de Tópicos de política (2ºs anos)


Pela densidade, pela importância e pela complexidade, a prova objetiva de Tópicos de Política que acabamos de fazer recruta uma série de elementos. De fato, a prova foi um desafio 5 de 5, e não estava fácil. A partir da noção do que é democracia, ela explora conceitos, história, legislação, acontecimentos da política recente e, sobretudo, o compromisso de uma educação política que prepare os indivíduos para lidar com noções imprescindíveis como participação, controle do poder, divergência, laicidade e os chamados ‘bugs da democracia’. Basta abrir qualquer jornal hoje pra ver como são caros esses temas, e como, de cima para baixo, na nossa hierarquia de poder, eles são mal compreendidos.
A recuperação de uma prova assim não pode abrir mão da proposta. O desafio continua de pé. A recuperação não será mais fácil do que a primeira prova. Portanto, vamos estudar!

A recuperação será feita por meio de uma entrevista e ofertada de duas formas diferentes:

a)      No primeiro grupo, de pessoas com nota entre 4 e 15, a recuperação consistirá em adicionar nota ao que já se tem. Você responde de uma a três questões mais simples, disputando de 5 a 16 pontos. Optará por essa alternativa o aluno que não quer fazer a prova de novo, mas simplesmente atingir a média. O encaminhamento então é o seguinte: ele traz para a entrevista a prova objetiva que fez. Ali, então, eu vou checá-la e fazer perguntas em cima das questões que o aluno não foi bem.

b)     Num segundo grupo, independente da nota que o aluno tirou, ele vem pra entrevista disputando os 30 pontos. Aqui é uma recuperação total, e não parcial. A pessoa será avaliada com perguntas mais complexas, envolvendo todo o conteúdo + o texto do prof. Leandro Karnal, impresso e colocado no mural da sala.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O conceito de mímese (3ºs anos)


 Imagem relacionada

Conceito que foi tema de importantes debates na Antiguidade, mímese apresenta contornos bem diferentes na concepção de arte de Platão e de Aristóteles. Para tratar desse assunto, eu reproduzo abaixo o verbete da Routledge Encyclopedia e faço alguns acréscimos. 

Mímese é um dos mais antigos e fundamentais conceitos de estética produzidos no Ocidente. Desde a antiguidade, o conceito foi difundido e ao longo da história reinterpretado por diferentes segmentos artísticos, como a literatura, a música e a pintura. A princípio, mímese significa imitação, representação, cópia de alguma coisa. Ele pode ter, ainda, a finalidade de recordar algo, de apresentar uma mensagem ou mesmo exprimir algum ensinamento. 

Na antiguidade grega temos uma cultura majoritariamente oral, basta lembrarmos as audições, os recitais de oradores e poetas, as performances dos sofistas ou ainda a representação feita por atores durante encenações das tragédias. Tudo isso compunha o substrato do conhecimento, e também da própria ética, ou seja, dos valores partilhados pelos gregos. Daí ser de grande interesse para um filósofo como Platão discutir a arte do seu tempo, chamando para si a tarefa de retratar e avaliar o papel de artistas como os poetas-rapsodos e os atores.

A relação entre mímese com figuras de autoridade do passado (pais, heróis e autores) era algo profundamente arraigado na cultura grega antiga. Trata-se da necessidade de relembrar as proezas, os grandes momentos e os eventos singulares que ocorreram na história, cujos personagens, feitos e ditos, também se tornaram inesquecíveis. Essa necessidade de trazer de volta à memória os eventos do passado dá ao conceito de mímese um significado mais próximo ao de reatualização. O ato de reatualizar, por meio da poesia, do teatro ou de qualquer outra forma literária, se impõe a nós por conta de dois fatores:

a) os eventos a que eles correspondem foram consagrados ao longo do tempo, possuem um valor especial, mais importante do que a nossa realidade cotidiana; por conta disso, nós nos sentimos impelidos a rememorá-los, para inclusive não cairmos na abstração e na irrelevância;
b) ao reatualizá-los, somos como que inspirados e iluminados pelo seu esplendor, o que nos permite escapar da banalidade cotidiana.

Mímese carrega uma ambivalência: dependendo das circunstâncias, o conceito pode significar a inferioridade da atualização comparada ao fato ocorrido ou a relativa superioridade que ela adquire por sua participação temporária no prestígio, na glória daquele fato.
Tornou-se um dos lugares-comuns mais imediatamente lembrados as críticas de Platão dirigidas aos artistas. Para ele, a preocupação da filosofia é a de alcançar a verdade. Mas, na República (livro II), por exemplo, nós vemos Sócrates advertindo que nós “não podemos levar a sério a poesia como algo capaz de alcançar a verdade”, e que “aquele que escuta a poesia tem de ficar alerta contra suas seduções”. 

Ou seja, para Platão, a busca da verdade não pode ser confundida com o prazer da arte retórica, o qual, na época seduzia multidões, mas sem critérios e interesses mais profundos. 

Por conta disso, na mesma linha, também o teatro será rechaçado. Neste caso, o problema está nos atores, que estão mais interessados em persuadir o auditório do que chegar à verdade. Ainda na República, Sócrates aparece desferindo uma crítica ferrenha a Homero, pai e maior de todos os poetas, afirmando que os ensinamentos deixados por ele são testemunhos inconvenientes à educação da juventude. 

O trabalho do poeta, assim como o do carpinteiro que confecciona a cama (exemplo dado por Sócrates no livro X da República) é um trabalho imitativo, uma cópia. E por ser cópia, não pode ser comparado à realidade.

São na verdade três os usos empregados por Platão na República:

a) No livro II, falando do conteúdo da poesia, aplica o termo, de forma geral, à relação de significado entre as palavras e as entidades a que elas se referem;
b) No livro III ele explora o fato de que, na tragédia grega, seres humanos comuns desempenham o papel de heróis lendários e deuses, a fim de criar a ficção. Aqui temos uma forma peculiar de mímesis como um termo técnico que abrange um gênero literário específico: o drama, no qual os artistas nunca falam em sua própria voz, ao contrário da narrativa e de outras formas;
c) No livro IV, ele estabelece a tripartição da alma e explica como níveis mais baixos da realidade imitam níveis mais altos. No livro X ele conclui que toda poesia e mesmo as formas não dramáticas são ilusoriamente miméticas, pois estão a três graus da realidade.
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Aristóteles mostra uma visão diferente de Platão. Nele não encontramos essa conotação negativa e mímese significa simplesmente representação, algo que indica que o mundo narrado em um poema, por exemplo, é muito semelhante a ele, embora não seja idêntico. Nesse sentido, a visão aristotélica se aproxima bastante do conceito moderno de ficção.

É na Poética que encontramos as críticas de Aristóteles ao tratamento dado por Platão ao conceito de mímese. Aristóteles estende o significado do conceito para além do gênero dramático, retirando-lhe qualquer pecha de inferioridade na comparação com uma realidade independente. 

Há uma crítica a Platão, no sentido de que se mímese envolve qualquer literatura imaginativa, então os próprios diálogos platônicos são miméticos, visto que descrevem não uma realidade que realmente acontece, mas o tipo de coisa que poderia acontecer.

A Poética de Aristóteles é uma teoria sobre a construção que o poeta faz (poiésis) de uma representação (mimesis) da ação (práxis) do personagem. Numa tragédia, por exemplo, não observamos o ator cometer aquelas ações horrendas, até porque isso seria desagradável, mas o vemos representar, imitar (mimesis) aquelas ações, e esse gesto nos proporciona um prazer reflexivo.

A mímesis impede a poiésis do poeta de construir uma praxis real, mas as possibilidades que ela descreve são reais, e não fictícias, daí vermos Aristóteles ressaltar o componente cognitivo dentro do prazer estético. Com Aristóteles, mímese não é mais uma arte enganadora, mas um universal antropológico que nos proporciona um prazer cognitivo, algo que somente nós humanos podemos fazer (os animais não imitam). 

Ao ver os fatos se desenrolarem e os personagens representarem, nós reconhecemos e até dizemos “este homem” ou “este caso” do passado é semelhante àquele caso (atual) que eu ouvi ou vi. Portanto o mundo retratado na poesia não é um mundo esvaziadamente fictício, mas uma versão razoável de nosso próprio mundo real. O poeta não nos mostra o que aconteceu lá trás ou o que está acontecendo, ele mostra o tipo de coisa que poderia ter acontecido, o que pode acontecer.